quinta-feira, 18 de junho de 2015

À Nuvem.

Yo.
Sup?
Sabe, faz muito tempo que não te vejo. Você deve estar com problemas novos e amigos novos, mas tento não criar falsas perspectivas sobre isso, tento não acreditar que estamos definitivamente nos afastando.
Para fazer isso, eu me lembro do que você disse. Lembro que nossa amizade não é daquelas que sofre com o tempo ou distância. Algo como um Akai Ito, que na mitologia japonesa conecta duas pessoas e nunca se arrebenta.
Sei que é besteira tentar ser próximo às nuvens, mais lúdico ainda seria exigir a proximidade das mesmas. Eu apenas torço para que essa mesma nuvem venha de vez em quando visitar o meu céu. Você faz falta, velho amigo. Por mais que agora você esteja mais próximo de outras pessoas, e por mais que os anjos consigam se manter mais próximos de você, eu me recuso a pensar que não voltaremos a ser como éramos.
Já te descrevi uma vez como "aquele amigo que não importa há quanto tempo não nos vemos, quando passa pela cidade a gente se encontra num bar qualquer e age como se ele estivesse sempre alí".
Lembra-se que uma vez eu disse que se você me enviasse uma caixa com um conteúdo suspeito dentro e um bilhete com "coma, acredite em mim" eu comeria? Pois eu acho que nunca mudaria de idéia. Você me conquistou, e sabe disso. Eu guardo um lugar especial para você aqui, no meu céu. Ninguém NUNCA conseguiu se encaixar em mim de forma mais perfeita do que você, e muito obrigado por isso. Mesmo que eu não conheça nem um terço de você, não posso deixar de acreditar que é o suficiente para dizer que te amo. Sinto sua falta.
De um complexado para outro: Já viu um céu sem nuvens? Pois eu acho que os dias mais lindos são os nublados.



segunda-feira, 15 de junho de 2015

Meu 11 de setembro

Autor convidado: Matheus Santiago


Eu realmente achava que estava no controle. Pensava com certeza que meus sentimentos nunca escapariam, que eu os amordaçaria pra sempre, ou até pelo menos, eu estar pronto pra lidar com eles. Mas você teve que intervir.
Não posso te contar com exatidão como eu estou agora, me faltam palavras. Acho que o melhor que posso fazer é uma comparação boba e limitada, mas ao mesmo tempo que insinua o tamanho da minha dor. Você, minha cara, foi meu singelo 11 de setembro. Eu era como um prédio que se sustentava como podia. Antes bem estruturado e feliz, sem nenhum problema, e de repente tudo se foi, você me explodiu interna e externamente. Não posso dizer na verdade que não já estava com meus pilares enfraquecidos, você esmurrou e martelou quase todos eles dia após dia, me deixou por um fio. Fio o qual eu me agarrei com todas as forças pois meu orgulho não me deixa transparecer minha catástrofe em nenhum momento. Mas ela está lá, fugindo do meu controle em pequenos gestos e palavras, olhares e sorrisos, feições e ações.
Com certeza não poderia haver momento pior pra tudo isso, em meio a tanta crise, em um pequeno momento de descuido meu, desabei completamente. Desmoronei em uma lampejo. Cada gota emplodia minha estabilidade com tamanha força a ponto de eu precisar me escorar em qualquer coisa pra me aguentar e não desabar de vez. A fumaça no ar me fez sufocar instantaneamente, - sério, eu parei de respirar literalmente e travei um duelo com meus pulmões para fazê-los trabalhar, como se já não estivesse ocupado o suficiente - o calor infernal era como uma faca enterrada em meu abdômen que vibrava constantemente, a única coisa que se manteve de pé foi uma pequena viga, um fiapo de sanidade, quê me recusava a perder, uma razão que não caia por terra.
Então você deu seu tiro de misericórdia, seu olhar, colorido de tal forma que é castanho como carvalho e amarelo como mel, que sempre teve a mais bela das formas, a mais doce das íris, estava apagado e destoado, borrado em meio a um mar de emoções. Emoções que eu sabia que variavam entre o ódio e o desprezo. Expirei todo meu oxigênio. Meu plano mental entrou num apocalipse momentâneo e depois simplesmente quebrou, minha alma estilhaçou e espalhou-se por meio as árvores. Minhas forças e vontades se esvaíram e deram lugar somente a dor. A mais pura e agonizante dor. Pois eu sabia que era minha culpa. Eu conhecia tudo mas mesmo assim não utilizei essa ciência da forma que deveria. Eu falhei no que deveria ser a única coisa que importava.
Agora eu estou sofrendo. Passarei dias em luto. Declaro que mal enxergo agora pois todo o espaço da minha visão foi tomado pelo choro, tudo que eu ouço é o ranger dos meus dentes, tudo que eu sinto é o frio.
Se eu morresse agora provavelmente não faria diferença, apenas mais um pra estatística, afinal, na realidade, só meu corpo vive, o que sobrou de mim, aquela viga de sanidade e razão se desfez em uma única lágrima solitária no meu rosto no momento em que me olhou, e minhas tentativas de recuperá-la se desfizeram logo após em um coletivo quando você não mais prestava atenção.
Mas a pior parte é ter que continuar a encarar você. Continuar a olhar pro meu erro. Continuar tentando consertar mesmo sabendo que provavelmente não há solução. Você é o veneno que eu tomo todos os dias, você é a tragédia que me tortura todas as noites, você é meu pequeno e devastador 11 de setembro.




terça-feira, 26 de maio de 2015

Seus fragmentos, e só seus.

Autora convidada: Lorena Varela


Chorar é inevitável, todos temos o direito de sofrer um pouco. Existem aqueles momentos em que acreditamos que a vida não vale mais a pena. Mas antes de querer acabar com ela, faça algo. Algo simples como abraçar uma árvore, catar conchas na Praia, alimentar um animal abandonado, cantar alto no meio da rua sua música favorita, encher o braço com tatuagens de chiclete, dançar na chuva, dizer "eu te amo" ao seu melhor amigo, conhecer um amigo virtual, misturar doritos com nutella, jogar paintball. Depois de tudo isso, você terá o direito de tomar o rumo que quiser na vida, mas qualquer que seja sua decisão, que seja com a mente limpa. Sabendo que todos esses pequenos fragmentos de felicidade são algo que ninguém poderá tirar de você, suas lágrimas jamais poderão afogar os sorrisos que você deu, pois a felicidade se encontra nas coisas mais banais. E caso a morte te encontre, até ela terá que admitir que foram esses pequenos momentos que fizeram sua vida valer a pena

domingo, 10 de maio de 2015

Década

Dez anos.
Cento e vinte meses.
Quinhentas e vinte semanas.
Três mil seiscentos e cinquenta dias.
Oitenta e sete mil e seiscentas horas.
Cinco milhões duzentos e cinquenta e seis mil minutos.
Trezentos e quinze milhões trezentos e sessenta mil segundos.
Trinta e um bilhões quinhentos e trinta e seis milhões de milésimos de segundos.

Palavras são como areia ao vento. 
Mas mesmo que elas não façam diferença alguma.
Não deixo de desperdiçar, de atirar aos céus todos os dias.
Uso-as para te lembrar que não me esqueci.
E mesmo que minhas palavras sumam com o tempo.
O seu nome nunca sairá da minha cabeça.
Seu rosto sempre estará em minha mente.
E a saudade continuará em meu peito.



Feliz dia das mães. 









Sinto a sua falta.




sexta-feira, 1 de maio de 2015

Cega fase




Autora convidada: Mylena Rocha


A pior doença do século é a cegueira. Fisicamente, ela é horrivel, não se pode ver a luz do dia, não se pode olhar a beleza das pessoas, dos lugares, dos amores... Mas te digo, meu amigo, não há cegueira pior do que a interior. Você anda tão cego que não consegue viver em paz, aos poucos perde sua essência, que era tão admirável ao meu ver. Quando você deixa o oculto entrar pelas brechas na sua vida, aos poucos ele toma conta de você feito uma blusa seca que se enxarca totalmente quando jogada ao oceano, tudo muda, muito, mas muito lentamente, e quando se vê.. bum. O estrago foi feito. Não é possivel nem lembrar a data que isso ocorreu, como ocorreu. Já se tornou tão normal que você pensa fazer parte da sua vida. Por favor, reaja! Não aceite essas mudanças terriveis que querem ser de casa. Expulse-as. Faça uma limpeza no local. Sei que é muito dificil agora, mas você consegue. Nós 3 estamos aqui. Deixe a luz entrar novamente na sua sala, expulsando essa nuvem obscura que tem tomado conta do seu ser. Por favor, amigo, reaja. Não consigo te ver nesse estado de desilusão, perda, confusão, desejos, loucuras, erros. Você sabe o que fazer, então por favor reaja.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Curto Tempo

Sento-me no ônibus, trem ou metrô. Do outro lado, um rosto, um olhar. Sinto conforto naqueles olhos. Algo de familiar me faz olhar quase sempre para ela. Não sei o motivo disso, eu nunca sei. Mas sinto um frio na barriga, sinto aquela vontade de puxar assunto. Por algum motivo que não entendi até agora, sinto que é recíproco. Os olhares voltam. Não chega a ser uma cantada ou flerte, mas a atração causada por algum tipo de sincronia. Não sei se é por termos quase tudo em comum, mesmo sem sabermos. Pode ser questão de hormônios ou até aparência. Talvez seja só coisa da minha cabeça, ou de fato tenhamos nos apaixonado quase que na mesma hora. Mas não importa o motivo. O que importa é que agora estou em queda. O chão some, a voz também. Até a capacidade de olhar fixamente me é tomada. Quando quero estabelecer contato visual, não consigo. Quando não quero que perceba, não paro de dar olhadas rápidas. Acho que poderia começar uma boa amizade, provavelmente devemos nos entender. Essa pessoa parece interessante de se conhecer.

Ela salta. Vai embora, provavelmente para casa. Vai continuar sua vida normalmente, e seu olhar nunca mais vai aparecer na minha. Não lembrarei mais dela no dia seguinte. Provavelmente nem lembrarei quando chegar em casa. Mas passo alguns minutos refletindo sobre tantas as maneiras que eu poderia ter usado para me aproximar. Será que ela também faz o mesmo?

Não é a primeira vez, não será a última. Essa pequena e súbita conexão é familiar para todos, mas parece que o prazer vem da pequena duração desses momentos. Momentos esses em que pensamos ser correspondidos e entendidos. Momentos únicos em que a pessoa não responde.



terça-feira, 28 de abril de 2015

Era Outra Vez: João e Maria

Conto de fadas: em seu sentido etimológico, “conto” trata-se de uma contagem ou suposição que adquiriu o sentido de narração. Concatenado ao “de fadas”, nos traz o sentido de uma fábula ou história antiga (que pode ser ou não baseada em um acontecimento real), passada de geração em geração para ensinar valores e dar lições de moral.
Contos de fadas podem e, com certeza, são modificados com o passar das gerações. Cada um que ouvia a história lá no início após sua origem passava a mesma para seus filhos. É óbvio que muitos alteravam a estória de acordo com suas necessidades criando dessa forma muitas outras versões. Algumas dessas versões faziam fama, se tornavam livros e serviam de inspiração para outras estórias que se distanciavam cada vez mais da original.
Perdoem-me pela introdução meio chata, mas finalmente cheguei ao ponto que queria e daqui não enrolarei mais. Recebi recentemente um e-mail de uma fonte anônima. Neste e-mail, a fonte dizia que sua família carregava uma versão mais realista e interessante de um desses contos. Deixarei com vocês o papel de decidir se ela se aproxima mais da origem do conto ou não. A versão que recebi estava em primeira pessoa e isso me fez supor que ela era passada pelas pessoas sempre em formato de texto. Sem mais delongas, aqui vai a versão do anônimo.
“Era noite e nuvens cobriam o céu. Apenas o clarão ofuscado da lua e uma luz amarela que se movia trêmula no horizonte iluminavam a paisagem. Não vejo nenhuma estrela, apenas o breu absoluto e infinito. Meus pés descalços sentem a grama gelada e macia da clareira e as formigas que fazem cócegas nos meus dedos. Entre algumas árvores eu vejo um caminho de terra, contornado por alguns cogumelos e galhos velhos. Minha irmã toca meu ombro e aponta para o outro lado, para a velha cidade de madeira com uma fogueira gigante iluminando os céus anunciando algum festival. Sinto-me tentado a voltar para casa, mas aquele caminho me despertava a curiosidade. Eu não voltaria atrás agora, afinal, é só ver para onde o caminho leva e em seguida voltar para casa.
Olho para Maria e tiro a mão dela de meu ombro. Seguro ela pelo braço e suplico com os olhos para que ela me siga. Minha irmã bufa e olha para baixo deixando claro que consegui o que queria. Sem hesitar ou ao menos sentir pena por ela, eu largo o braço de Maria e ando com passos lentos para fora da clareira em direção ao caminho de cogumelos, galhos e terra.
Minha irmã me segue silenciosa e apenas o barulho de grilos e nossos passos colorem o ambiente sonoro. Ao dar o primeiro passo para fora da clareira, sinto a terra morna entre meus dedos e ouço alguns galhos sendo quebrados pelos passos de Maria. Seguimos o caminho lentamente, sendo cobertos pelas árvores e perdendo a visão do céu. A visão da clareira vai se despedindo por entre as árvores, troncos e arbustos. Sei que não vou me perder, o caminho de terra estava gravando nossas pegadas por onde andávamos. Meu pai nos ensinara isso: se nos perdermos na floresta é só seguir as pegadas que apontam pelos calcanhares. Minha irmã segura em minha mão esperando obter mais segurança e coragem. Aperto a mão dela com firmeza para passar um pouco do que ela precisa e a puxo para dentro da floresta apertando meu passo.
Conforme o tempo passa, a curiosidade vai perdendo o atributo incentivador e a fome me faz considerar voltar. Após alguns minutos, eu sinto uma gota cair em meu ombro e isso é um sinal de que temos que voltar o mais rápido possível. Olho para Maria e vejo que ela está assustada. Provavelmente ela já entendeu a situação em que nos meti. A chuva chega e vejo nossas pegadas se desfazendo na terra que agora virava lama.
Como se fosse algum tipo de pegadinha divina, a chuva logo vai embora. Parecia que tinha vindo apenas para nos fazer perder a calma e a direção de volta para casa. Eu e Maria nos sentamos em um tronco, e sentimos a barriga roncar. Não me lembro de já ter sentido tanta fome. Provavelmente perdemos a noção do tempo durante nossa caminhada. Pego alguns dos cogumelos do chão e dou uma mordida. Eles não se pareciam nada com cogumelos venenosos, mas eu como primeiro para ver se tem algum risco para minha irmã. Os cogumelos não estão muito bons, mas meu corpo não reage negativamente a eles. Eles apresentam uma coloração meio marrom e um gosto um pouco enjoativo, mas nada que não mate a fome. Dou alguns para Maria e ela os come ferozmente. Então a fome vai embora e decidimos continuar a trilha.

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Está de noite, sou acordada por algum barulho que vem de fora do meu chalé. Ouço crianças chorando e batendo na porta da minha casa. Levanto-me, coloco as pantufas e ando com passos pesados para atender os pestinhas. Tomo um susto quando abro a porta. Vejo duas crianças chorando e com os dentes sangrando. Pedaços de madeira que provavelmente foram parte da minha casa estão jogados no chão e cheios de marcas de mordida. As crianças correm para dentro do chalé, comendo tudo o que estava dentro da minha despensa. Eu as deixo comer e corro para a janela. Fico alguns segundos encarando a floresta, e decido gritar para que alguém me ouça, qualquer pessoa, eu precisava avisar que acabei de achar duas crianças que provavelmente fugiram da cidade e estão acabando com tudo o que tenho. Se alguém tiver ouvido, a ajuda  deve chegar em aproximadamente uma hora, pois a cidade está parada por causa de uma festa de casamento e a chuva fez a região em que moro impossível de se atravessar.
Bato no parapeito da janela. Frustrada e me lembrando do problema que tenho bem atrás de mim. Olho pelos ombros e vejo o garoto mordendo o pé de uma cadeira, a garota que estava com ele está chorando no canto da sala. O garoto pula para cima de mim, tentando me morder, então eu atiro ele para dentro do meu quarto e tranco a porta. O menino começa a bater na porta, chorando e gritando por comida.

Sei que muitas pessoas não fariam isso, mas otária do jeito que sou, decido preparar algo para as crianças comerem. Não sei há quanto tempo estavam perdidas, mas estão tão desnutridas que o mindinho do garoto parecia um osso de galinha. Ligo o fogo do forno que eu costumo usar para preparar os doces para a minha franquia e deixo-o esquentar. Enquanto isso, eu pego um pão de anteontem e jogo para a garota com medo que ela me ataque. A garota come o pão como se fosse o primeiro prato de uma ceia de natal. Logo em seguida, ela chora pelo irmão que bate com todas as forças na porta do meu quarto.
Abro a porta e jogo um pão para dentro, fechando-a em seguida. Dessa vez eu não tranquei a porta na esperança de acalmar a criança. Abro o freezer da geladeira e tiro um frango congelado e pronto para ser assado. Abro o forno e fico de joelhos para botar o frango para assar. Choro em desespero sabendo que as crianças devem estar tão desesperadas quanto eu. Ouço a porta do meu quarto abrindo e sou empurrada para frente. O fogão fecha.”




domingo, 26 de abril de 2015

Não leia, é perda de tempo.

Estamos todos indo para casa


Quando vem o conforto?
A satisfação é a palavra tatuada dentro de nossas cabeças.
Nossos esforços, lutas, caminhos e decisões são para o bem próprio.
Quando ajudamos alguém ou fazemos qualquer outra boa ação, é para no final sentirmos aquele frio na barriga.
Somos bons e fazemos coisas boas para trazer aquela sensação de conforto com a nossa vida. Mas isso nunca dura. Existe então o conforto que não acaba? Alguma escolha ou receita milagrosa para atingir o estado de felicidade infinita.
Ontem eu vi uma frase que desde então martela em minha cabeça. Talvez seja essa a explicação para toda essa esperança e paciencia para o conforto.
Nossa vida pode ser resumida e explicada como uma eterna ida para casa.
Mas qual seria a nossa casa? Quando finalmente chegaremos no lugar do qual enjoar não será possível?
Será que todo esse esforço e sangue gasto será recompensado com o lugar que procuramos? Alguém jâ chegou lá?
Sabe, mais vale a pena viver sem se preocupar com isso. Antes de talvez chegarmos em casa, passamos por inúmeros lugares únicos. Lugares os quais talvez não passaremos novamente. E então seria um bom uso do nosso tempo passar por todos esses lugares sem nem ao menos olhar para eles? Pois é, cheguei a uma conclusão. Desleia esse texto. Volte no tempo, ignore tudo o que aqui está escrito. Pois você também está indo para casa, e nem ao menos olha para os lados. Está agora focado em um conjunto de letras que apenas tomam o seu tempo. Não volte mais aqui, não é bem vindo. Aproveite seu tempo, já que não tem volta.
Não volte mais, estarei esperando.




Quanto de humano

Autora convidada: Kathryn Lanna


Impressiono-me a cada dia que passa com o ser humano. Ego? Medo? Âmbito? Egoísmo? Ou seria tudo junto e misturado? Onde foi parar o amor para com o próximo? E a compaixão?
Quantas vezes você já não passou por um desabrigado, um menininho ou “mendigo” pedindo algo na rua? Você deve estar pensando “Aaaah várias, com o país em que a gente vive...”. Agora eu te pergunto, quantas vezes você já ajudou algum deles? Dessa vez você deve ter parado pra pensar um pouco. Uma? Duas? Nenhuma? “Se eu der dinheiro eles vão gastar em droga, o Brasil não tem mais jeito não”.
Uma vez andando pelo Méier, entrei em uma daquelas lojinhas onde vende de tudo e me deparei com um menininho de sete anos de idade pedindo algo às pessoas. Como você acha que elas reagiram? Torceram a cara, não responderam, olharam com um olhar de descriminação e pior, seguraram seus pertences. Desliguei-me um pouco da cena e fui ver se eu achava o que procurava, quando escuto aquela voz meiga e gentil. “Tia, você poderia me comprar essa blusa?”. Viro-me e está lá, aquele menino me olhando com aqueles olhinhos brilhantes e com uma camisa na mão. Mas eu não tinha dinheiro suficiente para lhe comprar a camisa, até que uma senhora que aparentava ter uns 60 anos veio até mim para perguntar se ele estava me incomodando, então lhe expliquei a situação. Na mesma hora, a senhora puxou da carteira uma nota e juntou com o meu dinheiro. Virou para o menino e disse, “Vá até lá e escolha duas camisas e um short”.
Só de ver a cara de felicidade do menino meu coração já se encheu de luz, uma sensação boa tomou conta de mim. Não tinha mais nenhum dinheiro, mas estava feliz porque fiz alguém feliz.
Outro dia fui com meu pai e minha irmã ao McDonald’s, coisa normal de fim de semana. Mas nesse dia específico algo me chamou a atenção. Ao passarmos pela porta do estabelecimento havia um menino, que aparentava ter a minha idade, sentado no chão. Na mesma hora minha fome diminuiu. Como eu poderia ter uma abundância de comida como aquela e ele não? O que nos difere? Peguei meu lanche e comi meu hambúrguer devagar pensando no menino. Nem tocar nas batatas cheguei a tocar. Meu refrigerante? Só um terço vazio. Perguntei a meu pai se poderia comprar mais um hambúrguer. “Por que, minha filha, ainda está com fome? Nem comeu suas batatas”.
Respondi-lhe que queria levar para o menino. Ele me olhou com um olhar de negação e depois de um tempo ao perceber que não fiquei muito feliz, disse-me para dar minhas batatas e meu refrigerante. Quando saímos tinham mais dois pequenos junto a ele. A empolgação dos meninos ao pegar a batata e o copo foi tão grande que deve ter aparecido um sorriso no meu rosto. Você faria o mesmo? Onde está sua compaixão? Onde está seu lado humano? Já pensou que você é quem muda o mundo? Não, não é só mais um clichê de “paz e amor”. Realmente pare e pense. Do que adianta você reclamar quando não se faz nada pra mudar?
E então, quanto de “humano” sobrou em você?

terça-feira, 21 de abril de 2015

Tirol

Estou cansado de ouvir que sente
E ser largado, repentinamente
Não sei se ainda serei gente
Mas nunca consigo, por mais que eu tente.
Aí mais do que de repente
Quando firmo os pés, me vejo de frente
Com alguém que sorri amplamente
E me mostra que não é assim, simplesmente
Que irei me afastar do presente
E então com um beijo perco minha patente
E esqueço da dor ardente.
Venho e escrevo um texto inteligente
Com um título sem sentido ou motivo aparente.
E decido, depois de tanto acaso incoveniente
Que sorrirei novamente
Pois encontrei por quem quebrar a rima.


Finalmente.




domingo, 19 de abril de 2015

Fichas


Estou em frente à uma máquina de fliperama cheia de desenhos e ilustrações.
Em seu letreiro, luminoso e colorido, está escrito VIDA.
Meu bolso direito não está pesado, mas creio que nele eu guarde inúmeras fichas.
Não sei quantas fichas tenho, e só descubro se tenho quando boto a mão no bolso para procurar.


Passo a eternidade na frente dessa máquina, repetindo tudo novamente.
De vez em quando aparece um player dois. Uma segunda jogadora, que me acompanha nessa aposta.

Parece ser útil, parece durar, e então o jogador dois vai para casa.
Fico sozinho com a máquina novamente, e a ficha cai.
Cai do meu bolso e faz um barulho único no chão.
E é aqui que encontro a escolha. Sinto vontade de deixar a ficha ali e sair do cassino.
Passar por suas enormes portas duplas sem olhar para trás.
E decidido, após pensar muito, eu chuto a ficha para baixo da máquina. Esqueço de sua existência.
Limpo o suor frio da testa e os pensamentos ruins da mente.
Enfio a mão tremida e fraca no bolso direito e espero alcançar mais uma ficha.
Sinto seu toque metálico e a tiro para fora do bolso, entregando-a à maquina.
Lentamente, a ficha rola para dentro.
Então ouço um apito, um toque familiar, que sinaliza que devo voltar ao jogo.
Volto a me concentrar, jogando sozinho, ganhando e perdendo pontos.
Avanço na jogatina, ignorando as palavras em amarelo que piscam em algum lugar da máquina.
Sem ninguém, vou em frente, sem me preocupar com os futuros níveis.
E lá, do outro lado da mesa, as mesmas palavras começam a ser novamente notadas por mim.
E então me ponho a pensar.
Quando será que esse "P2 - INSIRA A FICHA" se tornará um "01 CRÉDITO"?
Bem, continuarei jogando até as minhas acabarem.




terça-feira, 10 de março de 2015

Anjo

A vida gosta de apostar, e sempre ganha.
Há um tempo atrás, eu tinha uma visão sobre tudo.
Eu acreditava que havia um padrão, que a vida era uma eterna montanha russa.
Acreditava que sempre que acontecia alguma coisa boa, significava que aconteceria outra ruim para balancear.
E de fato, minha vida foi assim por um bom tempo.
Ela tinha altos, seguidos de baixos, seguidos de altos... Um combinava com o outro.
Até que houve o pior "baixo" de todos.
Eu cheguei no fundo, dalí não tinha mais descida.
Mas mesmo assim eu continuei descendo, tudo continuou piorando.
Foi quando o Anjo me apareceu.
Do fundo, eu pude vê-lo passando de nuvem em nuvem.
Tentei chamar pelo Anjo, mas infelizmente eu estava muito longe.
Foi quando eu percebi que o Anjo tinha começado a ajudar outro afundado.

Lá, do fundo daquele poço, eu passei a olhar para baixo, descobri outras faces minhas.
Algumas vezes eu me afundava mais, e fazia questão de me cobrir na terra fria.
Ruins foram aqueles tempos, em que ninguém olhava para mim, não da forma que eu queria.
Após algum tempo, eu me esqueci do Anjo. Passei a ver o fundo daquele poço como a realidade.
,

Então eu descobri que o Anjo estava feliz. E feliz com o afundado que ele carregara.
Um dia então, fui aproximado de outros seres que viviam na superfície.

Todos faziam parte de um grupo que se candidatava a olhar pelos outros seres.
Eu, feliz por ter recebido tal convite, aceitei sem questionar.

Algum tempo depois, fui perceber que o Anjo fazia parte desse grupo.
Mesmo tentando esquecer do Anjo, ele nunca saia da minha mente.
O Anjo estava bem com o afundado que ele carregava, e eu virei o rosto.

Minha atenção saiu do fundo do poço e foi para o céu. Mesmo sem saber voar.
Um dia, eu percebi que o Anjo acabara de ser ferido pelo afundado.
Imediatamente, eu comecei a perder noites de sono.
Tantas noites me foram tomadas, que os dias também começavam a ir.
O Anjo não sabia da minha cabeça, e eu não deixaria.
,

E foi aí que a minha vida mudou.

Tomei como ponto de vista, que a vida podia sim subir novamente.
Eu decidi tentar, e mesmo que o fracasso fosse a maior das chances, eu escalei.

Alcancei lugares usando apenas as minhas unhas e a imagem do Anjo, que me motivava.
Meus motivos para escalar voltaram, eu queria estar lá, eu queria estar com aquele Anjo.
Aguentei o máximo que pude, e então me joguei de costas.
Rezei o máximo que podia para aquele Anjo, gritei aos ventos que precisava dele.
Eu estava a mercê da sorte. Me arrisquei uma ultima vez, e dependia do anjo para sobreviver.
Inicialmente, eu achei que o Anjo fosse sumir, mas ele ouviu o meu chamado.

Por algum tempo, o Anjo pensou. O Anjo me considerou e pensou em me alcançar lá no fundo.
Aguardando o impacto, que estava próximo, eu fechei os meus olhos.
Resolvi que ser notado pelo Anjo já era uma conquista, mesmo que ele não fosse me procurar.
Agora era a hora de atingir o chão, de sumir para sempre no meio da terra.

Senti então um beijo.
Eu abri os olhos, mas mesmo assim o sonho não parava de ser o que eu via.
Muitos segundos se passaram, e então eu percebi que aquilo não era um sonho.
Passei a escalar novamente com todas as forças, que foram-me emprestadas pelo Anjo.
Reatingí os pontos que tinha atingido, e passei rapidamente por todos.
Eu consegui, cheguei na superfície, mas não toquei os pés na terra. O Anjo continuou.
.
Tão foi incrível, que eu não parava de subir. O Anjo me carregava para os céus.
Rapidamente, eu atingi as nuvens. O Anjo me carregava, e eu aquecia o anjo, curava suas asas.
Eu me lembro de quando eu diria que a vida agora iria voltar a descer.
Só que fui supreendido. A vida continuou subindo, com a ajuda do anjo.

Me encontro agora a caminho do céu, sem acreditar que haja um topo.
Eu tinha conceitos diferentes sobre a minha vida, e todos foram mudados pelo Anjo.
Sorrio e gargalho nos braços desse Anjo, agora já vendo as estrelas.
E não me importo que eu não saiba voar, pois o Anjo agora me leva para cima.
Sou ateu, e não acredito em seres alados, mas acredito em seres vivos, acredito no Anjo. Meu anjo.
!